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sexta-feira, 27 de junho de 2008

As horas voam e nada ainda foi resolvido, o cheiro de sangue me persegue. Nada ainda foi resolvido, a sensação de desinteresse é permanente, vejo que acostumamos facilmente com o que é ruim. A cada momento aumenta a quantidade de corpos abandonados pelos corredores, o sofrimento está estampado nos rostos de quem passa por ali. A imagem de macas sujas de sangue não me sai da cabeça, realmente não valemos muito, tudo acaba em um buraco com sete palmos de profundidade.
Foi impossível reconhecê-lo naquela situação desconfortável. Ver um homem forte jogado as traças, completamente escondido atrás de ataduras e faixas, vencido pelo medo de ser levado pela morte, é algo que não quero lembrar.
Nunca pensei que teria frieza nesse momento e foi exatamente o que aconteceu, perdi a conta das vezes que vi aquela Van vermelha estacionando em frente ao açougue da carne humana, a cada nova viagem, uma nova tragédia fazia parte de minha madrugada, o frio não me incomodava mais, isso era insignificante naquele momento. Lembro-me perfeitamente dos choros, gritos, sussurros, e o desespero de quem esperava por informações do lado de fora, não sei qual a pior sensação, a falta de informação do lado de fora ou as imagens presenciadas no interior daquele lugar.
Percebi o quanto nosso moralismo é uma completa imbecilidade, nesse momento esquecemos nossas diferenças, o sofrimento é comum a todos, compartilhamos nossas tragédias, trocamos informações mórbidas como forma de consolo.
Ainda bem que tudo não passou de um grande susto.

Aterro

O ambiente fétido e podre onde o cadáver caído em meio as pedras e torrões de terra era a imagem que melhor representa o lugar onde um homem solitário protegido por sua armadura purificadora lutava bravamente contra a montanha construída por nossos restos, sem a ajuda de sua gigantesca máquina robusta e tosca ele nada seria em meio a este espaço mórbido.

sábado, 7 de junho de 2008

Parceria




Pouquíssimas pessoas contemplam a arte da banalidade, menos ainda a beleza naquilo que se enquadra em nossos conceitos de fétido e anárquico.

Desperdiçamos a todos os instantes oportunidades de extrair um sentido estético ou sensibilizador nas cenas quesão as mais características em uma metrópole: o caótico, o sujo, o marginal e o industrial. Neste portal decaído da rua Floresta, entre os números 53 e 54, reflete-se o fim de uma outrora construção imponente que hoje abriga a mendicância e os registros "underground".Em alguns meses, poderá nascer ali um soberbo prédio de elite ou uma futura igreja. Nada é mais marcante em uma cidade do que essa eterna mutação. Em meio a um portão camuflado de ferrugem, caixas de leite em contato com o chão e muros tingidos pelo mofo, só se pode encontrar um item que é limpo: o horizonte. Singela expectativa para nosso futuro. A esperança, no caso, é da cor azul.