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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A missa


Lorenzo foi criado como uma criança livre, longe de frescura de pais abobados. Andava descalço com os pés na lama, brincava na terra, sentia o frescor da chuva. Teve uma infância simples, porém muito feliz. Aprendeu a ser malandro desde cedo. Era travesso e sempre usava sua esperteza para se safar. Nessa época deixou a timidez de lado, aprendeu na rua a se virar no meio da molecada. Sua avó não o dava mole, mas o deixava andar pelas ruas da pequena cidade tranqüila. Virou “mocinho”, como dizia suas tias. Logo descobriu que não teria mais graça suas brincadeiras de meninos x meninas, agora as queria como amigas. Nunca pensou que isso fosse possível, mas a idade o ensinou muitas coisas. Brincou bastante de cai no poço, e outros tipos de brincadeiras. Quando era um pré-adolescente Lorenzo começou a sair com seus primos mais velhos. Sempre ouvia piadinhas a respeito de masculinidade, garotos adoram esses tipos de piadinhas. Seus primos o atazanava com frases de “efeito”. “Você é veadinho, nunca vimos você com nenhuma menina”. Parece idiotice, mas na época Lorenzo pensava de outra forma e as influencias de seus amigos pesavam demais em sua vida. Todos os meninos são atormentados por essa fase. O que era para acontecer naturalmente virava obrigação.
Lorenzo freqüentava a igreja por força maior de sua avó. Muito religiosa, obrigava Lorenzo ouvir as palavras do padre, não fazia por mal, religião sempre foi muito importante para ela. Lorenzo obedecia, mas acha aquilo tudo o saco, para ele era uma tortura todo aquele sermão da montanha. Lorenzo começou a perceber as garotas que freqüentavam a igreja, isso o deixava mais serelepe. As meninas era a parte boa da missa. Lorenzo as acompanhava feliz da vida, mesmo sabendo que o culto iria lhe dar sono. Todas as garotas da cidade iam para igreja e isso se transformou em um incentivo para Lorenzo. Sua avó o chamava para ir à igreja de manhã, Lorenzo logo pensava em uma desculpa para poder ir a noite. Era obrigado a ir, não importava o horário. Lorenzo achava a igreja de sua cidade linda, ficava observando todos os detalhes de sua arquitetura,observava todas pinturas. Prestava atenção em todas as garotas, prestava atenção em tudo, menos nas palavras do padre. Sua avó desconfiada o pedia para contar como foi à missa, nada que um papelzinho distribuído na igreja não resolvia. Lorenzo guardava o papelzinho da igreja e o entregava a sua avó como prova de sua religiosidade. Sempre entrava na fila da hóstia apenas para ficar perto de alguma garota bonita, ficava lá com a cara mais lavada do mundo, como se fosse um santo. Torcia para que a missa acabasse logo. Em cidade de interior as coisas só acontecem após a missa, esse era o momento mais aguardado por Lorenzo. A missa finalmente acabava e toda a cidade caminhava para o pós-missa na praça principal, livres de seus pecados. Lorenzo saía da igreja com mais pecados do que no momento em que entrava. Ele e seus amigos iam para o pós-missa todos empolgados para verem as gatinhas, todas super produzidas para o dia “d” da semana. Lorenzo nunca tinha um centavo, sempre andava duro, afinal para visitar a casa de Deus dinheiro não era necessário, pelo menos essas eram as palavras de sua avó. Isso porque ela não via o olhar atravessado do coroinha para Lorenzo no momento em que ele recolhia as oferendas na sacolinha da igreja. Quando sua avó o dava dinheiro para oferenda Lorenzo o embolsava e mentia com firmeza a respeito.
Na pracinha da cidade Lorenzo ficava fofocando com os amigos sobre as garotas bonitas que ele avistava, sempre faziam isso, já que não tinham idade e nem coragem suficientes para buscar um bate papo. Quando viam um casalzinho discretamente irem atrás da igreja ficavam imaginando quando fariam o mesmo ato.
Lorenzo era precoce naquela época e a pressão imposta pelos primos ficava cada dia maior, a gozação o deixava aflito. Tinha vontade que seu primeiro beijo acontecesse logo, afinal era necessário "impressionar" os amigos, coisa de moleque juvenil. Depois de uma das muitas missas que Lorenzo freqüentou, foi obrigado a conhecer uma garota que era interessada por ele, não queria para não ser zuado por seus amigos, já que eles não perdovam nada. Mas derrepente ele perdeu o medo da gozação e foi conhecer a garota. Ela uma garota muito tímida o que deixou Lorenzo mais a vontade. Fingiu já ter passado por aquela situação, pegou a pela mão, sentiu uma mão fria e tremula. Levou-a para atrás da igreja sem trocarem uma palavra por alguns metros, não sabia o que falar naquele momento, o silencio fez com que Lorenzo a segurasse no rosto, e a beijasse. Seu coração explodiu naquele momento. A gúria tremia, tremia, e tremia, Lorenzo achou aquilo estranho, mas ficou na dele. Seu primeiro beijo foi também o primeiro beijo daquela tímida garota. Enquanto a beijava não sabia se parava, se continuava, nem o que falaria, só o restou beija-la, beija-la, beija-la, Lorenzo achou muito estranho e muito bom ao mesmo tempo. A ansiedade foi embora. Pararam de se beijar. Lorenzo conseguiu falar algo de engraçado, arrancou um sorriso da garota. A levou até as amigas e foi embora feliz da vida imaginando a missa do domingo seguinte.

3 comentários:

Natália Oliveira disse...

Quando olhei para esse texto pensei:- que texto grande. Quando o li pensei:- mas já acabou? hahaha Isso tudo é muito a cara de Lorenzo.Adorei demais esse texto. hahaha Me lembrou a adolencencia tirando a parte da pressão, mas a mão trêmula e a timidez me lembram essa minha idade. Gostei mesmo, seus textos estão mais sensiveis e mais bonitos. Vejo muita sinceridade, vem do coração mesmo.

João Killer disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Killer disse...

P.Q.P desculpe pelo palavreado, mas foi o mais adequado pra expressar tudo que senti. Quando comecei a ler, fui tomado por essa narrativa espetacular que prende do começo ao fim. Fiquei fascinado por Lorenzo. Tenho e tive muito dele. Você descreveu exatamente uma fase engraçada mas importante na nossa época pré-jovem. Lembrei da minha vó também quando você usou a palavra serelepe, pois ela sempre me chamou assim. Muito bom te ler.