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domingo, 13 de setembro de 2009

Back into the hole where I was born


Lorenzo foi obrigado a parar sua moto antes da passagem de nível. Impedido por um segurança viu a cancela descer. De longe ouviu sua buzina imponente. Os trilhos começaram a estalar. Aos poucos a grande máquina apontou na curva. Após alguns segundos estava a sua frente, um amontoado de metal. Sentiu o cheiro do oléo diesel queimado. Sempre gostou de trem, mas aquele era especial, o famoso "trem de passageiros". Era exatamente sete e quarenta da manhã acabara de sair da Praça da Estação. Tirou o capacete para visualizá-lo melhor. Inevitável não lembrar das vezes que subiu naquele trem. Esperou atentamente pelo primeiro vagão, viu alguns olhares curiosos em sua direção. De suas janelas as pessoas espiavam. Eu de minha moto e os motoristas atrás de mim também espiavamos calados. Quando via um rosto sorrindo ficava a imaginar seu destino. Trem de passageiro, impossível não se encantar com ele.
Quando criança ao ler seus livros de história, Lorenzo imaginava uma viagem pelo interior do Brasil através dos trilhos. Sempre adorou filmes de faroeste em que ladrões saltavam de seus cavalos em direção aos trens de bancos. Quando criança o trem deixou de passar por sua cidade durante alguns anos. Recebeu com euforia a notícia que ele voltaria a passar por aquelas bandas. Sempre ouviu histórias da época em que ele passava nos trilhos perto de sua escola. Claro que no dia de seu retorno a aqueles trilhos, Lorenzo queria o ver com seus próprios olhos, ficou ansioso na escola. Ao apontar oito e cinquenta em seu relógio não se conteve, pulou o muro da escola para ver o trem passar. Ficou a beira daquele pontilhão metálico acenando para os passageiros do trem, achou o máximo. Voltou para escola mas a suspensão foi inevitável.Sua avó adorou a notícia do neto fujão. Mas valeu a pena.
Agora estava ali, na frente daquele trem anos mais tarde. As crianças acenavam dos vagões, não se conteve e ficou acenando para elas. Percebeu os olhares indiferentes de alguns motoristas, não se importou com isso.
Lorenzo adorou a primeira vez que subiu naquele trem, nem ligou para as doze horas de viagem, e nem com o minério prateado em seu rosto. Foi uma das melhores viagens que fez em sua vida, simplesmente por ter ido de trem. Sempre que volta a sua cidade dá um jeito de subir em algum daqueles vagões. Paisagem maravilhosa. Hoje ele desce logo na segunda estação, mas não tem problema, adora o pouco tempo de viagem. Sempre com sua câmera a mão, corre para área de fumantes. Adora aquele espaço, não pelo fato de poder fumar no trem, mas pelas amplas janelas que aquele espaço possui, excelente para fotografar a paisagem.
O trem sempre fez parte de seu imaginário, lembrou da fez que levou uma moeda para ser esmagada pelo peso daquela máquina, a guardou por muitos anos, pena que a perdeu. Sempre sonhou com viagens clandestinas em seus vagões, mas claro, nunca teve coragem para tal façanha. O tempo de moleque passou, assim como o trem a sua frente. A cancela sumiu, Lorenzo ligou sua moto e foi embora, mas seu fascínio por aquele grande máquina não o abandonará.

1 comentários:

Natália Oliveira disse...

Eu imagino o Lorenzo nessa situação, alias um trem é bem a cara dele. Vai passando e passando e vendo tudo. Também gosto de ver o trem pasar. A cancela fechar é um chance de se lembrar do trem de viajar um pouco, ainda que parado.